sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

MAYSON, o retrato da exploração por circos e da desinformação pode virar símbolo de Educação?




Falo aqui da elefante que está em Ribeirão Preto, mas poderia estar falando de qualquer um dos animais oriundos de circos no Brasil.

Todos os dias vemos a resposta da natureza às ações irresponsáveis do homem ao meio ambiente. Há décadas o ativismo animal vem aclamando aos quatro ventos o sofrimento da vida dos animais em circo. Hoje no Brasil o IBAMA apreende habitualmente vários animais de circos, vítimas de maus tratos, com dentes e unhas arrancadas, cegos propositadamente, estressados pelo confinamento e seus cruéis treinamentos. 

A situação desta elefante Mayson não é diferente. Viveu quase 40 anos num circo, sendo explorada em apresentações circenses e agora foi  “doada”, como um belo presente de grego, para que a cidade de Ribeirão Preto pague a conta de seus anos de exploração. Isto mesmo, Ribeirão Preto, assim com tantas outras cidades brasileiras, está pagando a conta da exploração de animais por circos. Pagamos o preço do erro do particular devido a nossa co-responsabilidade por nossa omissão com relação a esses animais. Somos todos culpados, todos responsáveis.

Muitos perguntam: “E por que ela tem que ficar? Não poderia ser devolvida para a natureza?” Para estas perguntas, respondo: Imagine um índio sem o menor contato com nossa civilização, ser abruptamente deixado em plena Wall Street, em NY (EUA).  Ou então, um nova iorquino que a vida toda morou em um apartamento, sem lições de sobrevivência, perdido no meio da Floresta Amazônica. Dou este exemplo porque até o idioma seria um fator dificultante. Ambos teriam chances quase nulas de sobrevivência. É o que aconteceria com nossa “pequena” Mayson, que não teve chances de aprender com seus pares sua linguagem e a sobrevivência. Seria o mesmo que uma sentença de morte mandá-la de volta.

Por outro lado, claro, poderíamos pensar em encaminhá-la para um outro zoológico que já possui estrutura, já que sabemos que não existem santuários de elefantes no Brasil. Todavia, como já comentei, o IBAMA tem feito diversas apreensões de animais de circos e hoje, após várias conversas com responsáveis do Órgão em Brasília, sabemos que existe uma “fila de espera” de elefantes apreendidos aguardando um novo lar. Ou seja, a Mayson vai ter que ficar. É o mínimo que devemos fazer por ela. Mas não se trata de um ficar com festa, um ficar com alegria, inconsequente, mas sim um ficar com lamentação. Lamentar porque ela foi retirada da natureza, perdeu a naturalidade da vida com sua manada, foi privada da possibilidade de conviver socialmente com seu grupo (elefantes tem relações sociais tão complexas quanto o homem e ela sempre viveu só), foi adestrada como tantos vídeos mostram no Youtube para fazer poses como a da foto acima e ser explorada por um circo. Temos que lamentar também porque será usada verba da educação ambiental para que ela fique, enquanto temos tantas demandas ambientais que urgem por conscientização em nossa cidade.

Mas já que Mayson tem que ficar, se é com verba da educação ambiental, por que não torná-la um símbolo de peso de uma educação ambiental eficiente (que nunca tivemos) com relação aos animais urbanos, silvestres e exóticos?

A Constituição Federal diz que é dever do poder público investir em educação ambiental em todos os níveis de ensino. Então, o que precisa ser exigido é que isto seja cumprido de forma eficaz:

1) As pessoas têm que entender que os animais do zôo não estão ali porque é lindo, para sua diversão, mas porque foram fruto de exploração humana e hoje não são sequer sombra do que um dia seriam na natureza, por melhor que sejam suas condições de vida em cativeiro. Nos santuários brasileiros as visitas somente são permitidas em pequenos grupos agendados para que essas lições sejam passadas de forma bem didática.

2) Precisamos investir maciçamente em educação ambiental com relação aos animais urbanos, porque de nada adianta uma pessoa aprender sobre os animais do zôo e chegar em casa, pegar uma caixa com crias indesejadas de seus animais e abandonar em um terreno baldio, jogar no rio ou em um dos 50 pontos de abandono da cidade de Ribeirão Preto, fruto da falta de educação ambiental com relação a guarda responsável de animais.

Pelo bem desses animais, urbanos, silvestres e exóticos, que após tantos anos de exploração Mayson possa ter um lar adequado, e que da desinformação e exploração que ela representa hoje, se transforme efetivamente em símbolo de uma Educação Ambiental de peso, séria, transformando de forma positiva a consciência ambiental da população da cidade.  

Viviane Alexandre

2 comentários:

edinha disse...

Viviane, sou sua fã. Seu texto é muito verdadeiro.
Muita honra pertencer ao seu grupo de amigos no face. Só tenho a aprender e a crescer com vc. Seu amor aos animais e sua inteligência.Muito obrigada.

Patricia Monteiro disse...

Parabéns, Vivi. ADOREI!
Milhares de beijos querida.